Limites e regras: com "dicas" da própria criança.
Sistemas de pontos baseados no registro dos comportamentos dos filhos já se tornaram comuns em certas culturas e, inclusive no Brasil, até populares em certo período por meio de programas de televisão. Em nossa família incorporamos esta prática de forma bastante natural. Foi na mesma época em que tomei contato direto com os programas de apoio à parentalidade mundialmente difundidos, como “Incredible Years” e “Parenting Wisely”.
Estávamos morando em Portugal, na época que fiz o curso de Especialização Avançada em Psicologia da Família dentro do Programa de Doutoramento na Universidade de Coimbra em Psicologia Clínica e nosso filho tinha cerca de 4 anos, ele mesmo a dica que precisávamos! Acostumado a certos canais com programas infantis veiculados pela internet (algo que nas devidas proporções e com monitoramento dos pais não precisa ser totalmente proibido), nosso filho disse certa vez para mim que eu ganharia um “like!” por ter feito algo legal e, por outra razão um “deslike!”, fazendo sinal com a mão fechada e o dedo polegar para cima e depois para baixo. Isto nos chamou a atenção e logo imprimimos uma folha com várias figuras do símbolo de "like", que pode ser apenas invertida para baixo indicando a desaprovação (deslike!).
Até então, o que usamos como símbolo e como surgiu foi apenas algo particular em nossa família, o que realmente importa e faz funcionar qualquer "Sistema de Pontos", assim como funciona até hoje para nós foi destacar os comportamentos adequados do nosso filho dando a ele algum tipo de marcador como sinal de reconhecimento por ter realizado algo que é bom para seu próprio desenvolvimento (nunca por algo que é apenas bom para nós). Em nosso caso o simbolo escolhido, com a própria ajuda da criança, foi uma mãozinhas de “like!”, que colávamos na estante da sala de nossa casa. Ao mesmo tempo, algo que não está exatamente previsto nas práticas ensinadas nos programas de apoio aos pais Baseados em Evidências, entendemos que poderíamos também anotar os comportamentos inadequados do nosso filho atribuindo o mesmo sinal (invertido) como “deslikes” e, desse modo, registrar e pontuar para ele o que não deveria se repetir.
Sendo assim, criamos dois sistemas de registros dos comportamentos do nosso filho, um completamente independente do outro, pois os “deslikes” não anulam os “likes” e vice-versa. A cada 5 “likes” ele passou a receber alguma forma de reconhecimento concreto, como um pequeno “prêmio”, as vezes privilégio ou um simples e barato brinde (que costumávamos comprar por 1 EURO numa loja de brinquedos perto da nossa casa), seguido de um outro símbolo que era colado na mesma estante na forma de uma medalha com o desenho da cabeça de um dinossauro Tiranossauro-Rex (que ele tanto gostava na época). A cada 5 medalhas, que equivalem a 25 “likes”, ele ganhava uma figura de troféu que também era colada na estante e dava-lhe o direito de algum privilégio ou brinde especial.
No caso dos “deslikes” nós anotamos colando o símbolo do “like” invertido na mesma estante e, a cada 5 “deslikes” ele perdia algum privilégio, recebia uma ordem como "tarefa" que ele não gostava ou ficava em um “cantinho” previamente preparado para cumprir uma penalidade de 4 minutos (quando tinha 4 anos, mas, nunca deve passar de 5 minutos, como acontece na regra do jogo de Hoquei, de onde vem a expressão: "time out"). Este "cantinho" era sempre fora do ambiente em que a criança realiza algo que desaprovamos. Se ele praticasse infrações como bater em alguém, quebrar algo ou tem um comportamento altamente opositor iria para o “cantinho” imediatamente, sem a necessidade da contagem dos 5 “deslikes”, pois, seria então uma "falta" grave.
Recentemente, já em 2023, vi pessoas divulgando através da internet cursos para pais sobre parentalidade com incenações grosseiras afirmando, sem nenhuma menção a qualquer Evidência Científica robusta, que seus métodos são tão atuais que nem mesmo usam a disciplina com o recurso do popular "cantinho do pensamento" (que na verdade e melhor expressão é o Time Out). Obviamente que o uso de apenas uma estratégia isolada e indiscriminadamente não terá o efeito que as décadas de pesquisas Experimentais na área da Parentalidade têm nos permitido reconhecer o que são métodos eficientes na educação dos filhos.
Enfim, atualmente nosso raramente sofre as consequências negativas pelo acúmulo de "deslikes", pois não são frequentes as ocasiões em que emite comportamentos que são ruins para o seu desenvolvimento social e emocional, ele não costuma quebrar regras e basta avisá-lo ou relembrá-lo do sistema de pontos que se tornou muito eficaz em nossa família. Principalmente porque parte da estratégia surgiu dele próprio, a partir de algo que lhe era conhecido e significativo, dando-lhe a oportunidade de até mesmo ser coparticipante na construção do sistema.
Incentivamos todos os pais, mães e educadores em geral para que, baseados em conhecimentos cientificamente testados e comprovados, usem da criatividade e construam em família ou com turmas de alunos, suas estratégias personalizadas, como neste exemplo que vivemos. Você pode ver um exemplo prático de resultados do que propomos clicando aqui.
Luis Antonio Silva Bernardo
Psicólogo CRP 19/004142